By Uma indústria do Paraná acaba de entregar aquele que é considerado o maior projeto de engenharia de transporte já realizado no Brasil. Trata-se do Semirreboque Carrega Tudo Aizi. O semirreboque gigante possui capacidade de 130 toneladas e foi encomendado pela empresa Vale S.A., para operar no Complexo de Carajás, no Pará – a maior mina a céu aberto do mundo.
O Grupo AIZ, uma holding com expertise na fabricação de implementos rodoviários, elaborou e executou o projeto, que levou um ano para ser concluído e contou com investimento superior a R$ 50 milhões. O trabalho envolveu desenvolvimento técnico, fabricação e uma complexa operação logística para o transporte da estrutura.
Para se ter ideia, o maquinário possui 11 metros de face a face externa e cada pneu dele tem 3,5 metros de diâmetro. Pelo menos 200 colaboradores foram envolvidos diretamente na produção de duas unidades do equipamento, entre engenheiros, técnicos de segurança, soldadores, operadores de máquinas, técnicos de hidráulica e elétrica, logística e área de negócios.
Inovação nacional em engenharia pesada
O diferencial do semirreboque gigante, de acordo com a empresa produtora, é o sistema considerado inovador de suspensão, que elimina o uso de rampas tradicionais. A prancha abaixa completamente, encostando no solo e criando uma rampa natura para o carregamento de máquinas pesadas como tratores, perfuratrizes e escavadeiras.
“Normalmente, quando as pranchas possuem acesso pela parte traseira, as rampas descem até encostar no solo, criando uma inclinação que, para determinadas máquinas, torna-se um empecilho operacional, pois possuem ângulo de ataque na ordem de 10 graus. Nossa prancha desce toda a plataforma de carga em conjunto com as rampas traseiras, perfazendo uma inclinação máxima de 5 graus”, explica Jhony Dorini, gerente operacional do Grupo AIZ.
O equipamento conta com controle remoto do sistema hidráulico, o que otimiza o tempo de operação e proporciona maior eficiência no campo. “Esse semirreboque é uma solução que não existia, um investimento para o mercado de mineradoras que com certeza será replicado”, afirma o engenheiro industrial da AIZ Ronaldo Fernandes.
Logística desafiadora: transporte de semirreboque gigante pescorre 3 mil quilômetros e usa 18 carretas
Para levar o semirreboque gigante até Carajás foi planejada uma das mais desafiadoras operações logísticas do setor. O transporte começou em 28 de abril, saindo da sede da AIZ, em São José dos Pinhais (PR), tendo sido concluído em 16 de maio, no estado do Pará. Duas unidades do equipamento foram encomendadas e entregues. Foram percorridos aproximadamente 3 mil quilômetros, atravessando seis estados brasileiros: Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Tocantins e Pará. O trajeto utilizou rodovias como BR-116, BR-381, BR-135, BR-242, BR-153 e BR-222.
Ao todo, 18 carretas participam da operação de transporte do semirreboque gigante. As maiores peças – os chassis centrais, com 46 toneladas cada – foram divididas em três partes para viabilizar o translado. Também foram levados chassis laterais, escadas, plataformas e conjuntos hidráulicos. Todo o percurso foi acompanhado por batedores, com apoio e autorizações da Polícia Rodoviária Federal, DER e Dnit.
Um marco para a indústria nacional
A produção do maquinário, em território nacional, foi um fator decisivo para a contratação do projeto, diz a empresa. “Sermos uma empresa brasileira traz vantagens importantes tanto no custo quanto na logística. Como essas estruturas envolvem componentes importados, há uma influência direta do câmbio — especialmente da variação entre dólar e real — no custo final. No entanto, estar no Brasil nos permite maior agilidade e flexibilidade para atender a eventuais necessidades de reposição, reduzindo prazos e custos”, aponta Dorini.
O suporte técnico local também foi um quesito procurado pela Vale. “Além da fabricação e montagem das pranchas diretamente na mina, fomos contratados para atuar na fase de acompanhamento operacional, oferecendo suporte técnico e pós-venda contínuo”, completa o gerente.
O semirreboque gigante foi desenvolvido com potencial de replicação em outras unidades operacionais da Vale, com expectativa de expansão para outras minas. “Foi o único fornecedor nacional que aceitou esse desafio. É um produto personalizado, com critérios da Vale”, aponta Rui Mello, analista de frotas do Complexo Carajás.
Maior mina a céu aberto do mundo
Localizado no sudoeste do estado do Pará, o Complexo de Carajás é considerada a maior mina de minério de ferro a céu aberto do mundo: estende-se por 900 mil km², uma área que corresponde a um décimo do território brasileiro. A área engloba terras do leste do Pará, norte de Tocantins e do Maranhão, e é cortada pelas bacias dos rios Xingu, Tocantins e Araguaia.
A região possui uma alta concentração de minério de ferro, manganês, zinco, níquel e cobre. A Vale opera em Carajás desde 1985 e, em fevereiro deste ano, lançou o projeto “Novo Carajás”, para expandir a produção de minério de ferro e cobre, com um investimento de R$ 70 bilhões, até 2030.
Em 2024, a Vale extraiu 177,5 milhões de toneladas de minério de ferro no Complexo de Carajás, representando mais da metade da produção total da mineradora no país.
