Enquanto o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), silencia sobre as tarifas de 50% ao Brasil impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, o vice dele, Felício Ramuth (PSD), avalia se tratar de uma estratégia equivocada
“Os Estados Unidos são o principal destino de exportação de São Paulo. É cedo para aceitarmos como definitiva essa posição do Trump”, disse Ramuth à Folha nesta quarta-feira (9), horas após o anúncio feito pelo presidente dos EUA.
Ele também disse: “Não vejo a imposição das tarifas como tentativa de interferência externa em nosso país, mas sim uma estratégia, ainda que, a meu ver, equivocada na forma e na execução, dos EUA em conseguir mais vantagens comerciais em relação ao Brasil, bem como um posicionamento político contra as decisões tomadas pelo Brics”.
Segundo Ramuth, a decisão de Trump foi uma reação às críticas feitas por integrantes dos Brics, após reunião no Rio de Janeiro, na segunda (7), ao “aumento indiscriminado de tarifas” –o grupo não fez menções diretas a Trump ou aos EUA na ocasião.
O presidente americano já havia ameaçado ampliar as tarifas a integrantes do bloco, inicialmente formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, mas ampliado para 11 países e representando quase metade da população mundial e cerca de 40% do PIB.
“Logo após a reunião do Brics presidida pelo presidente Lula, o bloco se posicionou fortemente contra últimas posições americanas, como o ataque ao Irã e o convite dos Brics para torná-los parceiros, bem como outros países alinhados a políticas contrárias ao EUA, o bloqueio contra a Rússia e a desdolarização. Essas posições levaram a uma reação imediata do governo Trump, em especial contra o Brasil. O momento é de calma e novas rodadas de negociação”, disse Ramuth.
Em sua análise, Ramuth não fez menções ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), defendido por Trump na carta enviada a Lula quando comunicou o petista sobre as novas tarifas. Trump tem endossado o discurso de perseguição a Bolsonaro pela investigação, no STF (Supremo Tribunal Federal), sobre a trama golpista.
No entanto o argumento apresentado pelo vice é semelhante ao utilizado por aliados do ex-presidente, como o advogado Fábio Wajngarten, que foi secretário de Comunicação Social da Presidência no governo Bolsonaro.
Em rede social, Wajngarten escreveu, nesta quarta, que o governo brasileiro e “sua patética e risível chancelaria teima em alinhar-se à países que tradicionalmente são inimigos ou no mínimo distantes dos EUA”.
Cotado como presidenciável em 2026, Tarcísio não se manifestou, até o momento, sobre a decisão de Trump, mesmo tendo defendido as críticas feitas pelo presidente ao governo brasileiro há dois dias. São Paulo faturou R$ 6,3 bilhões em exportações aos EUA somente em 2025 –o valor é 19% do total exportado pelo governo paulista neste ano.