Cooperativa cria 1ª indústria de biodefensivos do Brasil

Cooperativa cria 1ª indústria de biodefensivos do Brasil

A Coopavel planeja expandir a produção de bioinsumos em Cascavel (PR). Uma unidade da Biocoop – a, primeira fábrica nacional de biodefensivos criada e gerida por uma cooperativa – já está em operação e uma segunda está nos planos. Com 12 biorreatores e capacidade anual de um milhão de litros, a unidade produz inoculantes e biofertilizantes focados nos quase 8 mil cooperados.

Enquanto os produtos convencionais apenas suprem nutrientes e podem ter impactos ambientais, os biodefensivos utilizam organismos vivos, como fungos e bactérias, para estimular o desenvolvimento das plantas e combater pragas naturalmente.

Um dos destaques é o inoculante Azospirillum, que reduz em até 25% o uso de adubação nitrogenada. Na prática, isso representa uma economia de até R$ 180 por hectare e evita a emissão de 380 kg de CO₂, conhecido como dióxido de carbono ou gás carbônico, na atmosfera por área tratada.

A empresa também produz biodefensivos à base de Beauveria, fungo eficaz no combate à cigarrinha do milho — uma das principais ameaças às lavouras brasileiras.

“Se a Biocoop não lucrar nada, mas contribuir com a sustentabilidade, já terá valido a pena”, afirma Leandro Belter, engenheiro agrônomo e diretor da unidade.

A ideia de criar a Biocoop surgiu de uma visão estratégica da Coopavel frente às novas exigências do comércio global e ao desafio crescente de produzir mais, nas mesmas áreas e com menos impacto ambiental. O diretor-presidente da cooperativa, Dilvo Girolli, lembra que há uma tendência em alta no mercado internacional por produtos sustentáveis.

Produção de biodefensivos pode reduzir importação de fertilizantes

Ele também destaca que o modelo intensivo do agronegócio brasileiro precisa reduzir a dependência de fertilizantes químicos importados. “Hoje somos muito dependentes de fósforo, potássio e nitrogênio vindos de fora. Os biodefensivos podem suprir parte dessas demandas com soluções locais e mais acessíveis.”

O compromisso com práticas sustentáveis busca também fortalecer a imagem do agronegócio nacional. Rogério Rizzardi, coordenador da cooperativa, destaca que o Brasil preserva mais de 60% de seu território com florestas nativas e se volta para investimentos em tecnologias sustentáveis.

O objetivo é que os grãos e as carnes produzidos sejam reconhecidos não apenas pela qualidade certificada internacionalmente, mas também pela sustentabilidade. Segundo ele, isso contribui para responder a críticas ao agronegócio brasileiro e valorizar seus produtos.

Iniciativa para estimular agricultura sustentável tem apoio da Embrapa

A iniciativa conta com a parceria da Embrapa Soja, sediada em Londrina (PR). A pesquisado Mariangela Hungria, ganhadora deste ano do Prêmio Mundial de Alimentação – World Food Prize (WFP), ressalta que os bioinsumos aumentam o potencial produtivo enquanto reduzem o uso de nitrogênio químico.

“Os inoculantes substituem total ou parcialmente fertilizantes químicos, reduzem impactos ambientais e aumentam o rendimento das culturas”, explica Hungria.

O produtor Jadir Mafioletti, que enfrentou ataques severos da cigarrinha do milho há dois anos, aplicará Azospirillum pela primeira vez em 2025. “Estou convencido de que é o caminho para o presente da produção brasileira. Além de controlar uma praga difícil de ser eliminada, promete mais produtividade”, relata.

Uso de biodefensivos está em alta no Brasil

O uso de bioinsumos, como os biodefensivos, no Brasil apresenta crescimento significativo nos últimos anos, refletindo uma tendência global de adoção de práticas agrícolas mais sustentáveis. Segundo a Embrapa, em 2024, 61% dos produtores brasileiros utilizaram algum tipo de biodefensivos em suas lavouras, superando os índices da safra 2022/2023 e posicionando o país à frente de regiões como a Europa, onde a adoção é de 25%.

O mercado de bioinsumos cresceu 15% na safra 2023/2024, movimentando R$ 5 bilhões. Os dados do atual ciclo não foram fechados ainda. Nos últimos três anos, o setor teve uma taxa média anual de crescimento de 21%, quatro vezes superior à média global.

A área tratada com bioinsumos aumentou 35% em relação à safra anterior, representando 12% da área total tratada com defensivos no país. O uso de defensivos químicos também apresentou crescimento, mas em um ritmo menor.

“Seguiremos dependendo dos defensivos convencionais, que são extremamente importantes para o agro. Só chegamos até aqui em nossas produções recordes graças a eles, mas os dados indicam que, embora o uso de deles ainda seja predominante, há uma crescente adoção de biodefensivos, impulsionada por fatores como sustentabilidade e demanda”, reforça o diretor da Biocoop.

Ele avalia que o mercado de bioinsumos deve seguir em expansão, contribuindo para uma agricultura cada vez mais equilibrada e seguindo no caminho ambientalmente responsável.

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