Líderes participam de reuniões para definir pautas, por exemplo. O governo também pode ter problemas com a eleição para novo coordenador da bancada evangélica. Os deputados federais votarão para escolher o novo presidente da Câmara e outros 10 cargos administrativos na Mesa Diretora no dia 1º de fevereiro.
Além da mudança na gestão da Casa, muitos partidos devem escolher nas primeira semanas do ano os novos líderes das bancadas – e a mudança de nomes pode ter implicações para o governo.
Câmara e Senado: fachada do prédio do Congresso Nacional na Esplanada dos Ministérios no dia 4 de julho de 2017
Edilson Rodrigues/Agência Senado
Uma das principais frentes parlamentares no Congresso, a bancada evangélica, também vai trocar sua coordenação e a disputa, sem consenso, também impacta o Palácio do Planalto (veja mais abaixo).
🔎O líder de um partido é responsável, por exemplo, por participar semanalmente da reunião do colégio de líderes, onde são escolhidas as pautas que serão votadas na semana. Além disso, orientam as bancadas durante as votações, podem assinar uma proposta coletiva em nome de todos os liderados e indicam quais parlamentares serão integrantes das comissões.
No PL, maior partido da Câmara e também a maior força de oposição ao governo, a mudança de perfil na liderança pode ser uma das mais sentidas pelo governo. Nos últimos anos, a sigla foi conduzida pelo deputado Altineu Côrtes (PL-RJ), que, apesar de ser da Oposição, é um nome mais moderado e que muitas vezes soube dialogar com governistas.
Em 2025, o PL passará a ser liderado pelo deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), que tem uma postura mais combativa em relação ao governo, principalmente em relação a pautas ideológicas.
Deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ) vai assumir a liderança do PL a partir deste ano.
Vinicius Loures/Câmara dos Deputados
É dele, por exemplo, a autoria do projeto de lei que equipara a pena para aborto acima de 22 semanas, inclusive em situações hoje legalizadas no país, ao crime de homicídio.
O deputado diz que, entre as prioridades da sua liderança, estará o projeto de lei que anistia os condenados pelo ataque às sedes dos Três Poderes no dia 8 de janeiro, além da “fiscalização total de todos os pagamentos do governo para identificarmos corrupção, em especial nas estatais que estão dando prejuízos”.
Na liderança da oposição, também haverá troca de nomes. O deputado Filipe Barros (PL-PR) sai da função, que passará a ser ocupada por Zucco (PL-RS), que há dois anos foi presidente da CPI que investigou a atuação do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST). A aliados, o deputado diz que vai “buscar uma atuação bastante profissional e técnica”, mas também terá entre suas prioridades a anistia aos condenados pelo ataque no dia 8 de janeiro.
Lindbergh assume no PT
O deputado Lindbergh Farias (PT-RJ) assumirá a liderança da bancada do PT na Câmara neste ano, após um acordo firmado no início de 2023.
Deputado Lindbergh Farias (PT-RJ) vai assumir a liderança do PT em fevereiro.
Bruno Spada/Câmara dos Deputados
O deputado tem um perfil mais radical do que o atual líder, Odair Cunha (PT-MG), aliado do presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), e que tem proximidade com partidos do Centrão.
Lindbergh foi senador entre 2011 e 2019 e é considerado um nome combativo dentro do PT. O parlamentar costuma fazer duras críticas à equipe econômica e ao Banco Central (BC).
No final de 2024, por exemplo, o deputado criticou o BC por não ter agido preventivamente para conter a alta do dólar, àquela altura motivada pela desconfiança do mercado com o pacote de corte de gastos enviado pelo governo ao Congresso e por questões sazonais.
Crítico assíduo do ex-presidente da instituição, Roberto Campos Neto, indicado pelo então presidente Jair Bolsonaro e a quem chamava de “sabotador”, Lindbergh sinalizou que terá boa vontade com o novo nome escolhido por Lula para o cargo, o economista Gabriel Galípolo.
O deputado também criticou o novo arcabouço fiscal, patrocinado pela equipe econômica comandada pelo ministro Fernando Haddad e relatada pelo deputado Claudio Cajado (PP-BA).
À GloboNews, o deputado diz que fará uma liderança de diálogo e elogiou o provável próximo presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB), de quem se diz próximo. Segundo Lindbergh, as prioridades da bancada em 2025 devem ser a isenção do imposto de renda até R$ 5 mil, o projeto de regulação das redes e pautas de defesa da democracia.
Impasse no União Brasil
Formada por 59 deputados, a bancada do União Brasil ainda não tem acordo para a eleição do novo líder, com a saída de Elmar Nascimento (União-BA).
De saída da liderança do União Brasil, Elmar Nascimento (União – BA) quer fazer o sucessor, mas enfrenta resistência do presidente do partido.
Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados
Deputados ligados a Antônio Rueda, presidente da sigla, defendem o nome de Pedro Lucas (MA) como novo líder. Já Elmar Nascimento quer Damião Feliciano (PB) como seu sucessor.
O terceiro candidato é Mendonça Filho (PE), de oposição, que caso eleito daria maior dor de cabeça ao governo. Até agora, nenhum dos três quer abrir mão da candidatura para chegar a um consenso.
Um deputado próximo a Rueda garante que Pedro Lucas já tem maioria dos votos e que está tentando uma composição. Mas outro deputado diz que “Rueda quer vencer na força e Elmar no voto secreto”.
Segundo este parlamentar, o presidente do partido estaria constrangendo os deputados e deputadas com a máquina partidária e, por isso, quer que a lista seja assinada, sem que o voto seja secreto. No voto secreto, a aposta da bancada é que Damião venceria.
A escolha da nova liderança estava marcada para dezembro mas foi cancelada porque, segundo deputados, Rueda percebeu que iria perder. Com isso, deve acontecer no início de fevereiro – podendo até mesmo ser no dia 1º de fevereiro, antes da eleição da Mesa.
Esse é mais um capítulo na insatisfação interna do União Brasil, que tem a bancada dividida e com ameaça de debandada quando ocorrer a janela partidária (período em que deputados podem mudar a filiação sem serem punidos) no próximo ano.
A forma como Elmar conduziu o apoio à eleição de Hugo Motta com a demora para entrar no bloco que já se sabia vencedor, agravou a crise.
O deputado acreditava que ele próprio seria o escolhido pelo presidente da Câmara, Arthur Lira, como seu sucessor, mas a resistência em declarar apoio a Motta fez com que o partido perdesse espaços importantes na Câmara, como a relatoria do Orçamento.
“A bancada está chateada primeiramente com o Lira porque entendem que traiu Elmar, com o Elmar por ter confiado no Lira e ‘rifado’ a bancada, e também chateada com Rueda pela forma de condução do partido”.
Bancada evangélica
Tradicionalmente, a troca da coordenação da bancada evangélica é feita por meio de consenso: os parlamentares revezam o posto sem que seja necessária uma votação. Mas, dessa vez, parece não haver acordo entre os integrantes da frente parlamentar.
Os candidatos, até agora, são os deputados Otoni de Paula (MDB-RJ) e Gilberto Nascimento (PSD-SP) e a deputada Greyce Elias (Avante-MG).
Otoni de Paula (MDB-RJ), Gilberto Nascimento (PSD-SP) e Greyce Elias (Avante-MG) disputam a presidência da Frente Parlamentar Evangélica.
Bruno Spada/Câmara dos Deputados
No passado, Otoni de Paula já tentou ser candidato, mas desistiu para que fosse feita uma composição em nome dos últimos dois coordenadores, Silas Câmara (Republicanos-AM) e Eli Borges (PL-TO). Dessa vez, acreditou que seria eleito sem disputa, como é o usual.
Mas Otoni tem sido criticado pela ala da bancada ligada a Jair Bolsonaro por ter se afastado do movimento político do ex-presidente, participado de um evento no Palácio do Planalto em que orou pelo presidente Lula e ter apoiado a reeleição do prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes.
Se eleito presidente da frente evangélica, Otoni de Paula diz que vai dialogar com o presidente Lula já que a bancada precisa do governo para “fazer política pública na ponta”, mas diz que isso não significa compromisso com o governo em 2026.
“A Frente Parlamentar Evangélica não pode ser ‘puxadinho’ do bolsonarismo, assim como não pode ser subserviente ao governo de hoje”, diz.
Como concorrente de Otoni de Paulo, a oposição dentro da bancada evangélica lançou o deputado Gilberto Nascimento.
Se eleito, a já difícil relação do governo com os evangélicos poderia ficar ainda pior. Mas Gilberto Nascimento prega independência tanto do governo quanto da oposição.
“É uma frente que tem vários segmentos, do PSOL ao PL. A frente não pode se vincular ao governo ou ser oposição ao governo, tem que fazer defesa das suas pautas e teses”, disse à reportagem.
A eleição para o novo nome pode acontecer no dia 26 de fevereiro. O atual presidente da bancada, Silas Câmara defende o nome de Otoni e trabalha para um acordo para evitar uma eleição na frente. A costura passa também pela escolha de nomes na Mesa Diretora.
Lideranças pacificadas
O PSD vai manter o deputado Antonio Brito (PSD-BA) na liderança, o que agrada ao Palácio do Planalto. Alinhado ao governo, o deputado conseguiu entregar votos da maioria da bancada a favor do pacote de corte de gastos.
A bancada do PSD ficou contrariada com a decisão do governo de não apoiar Brito para a presidência da Câmara, mas a questão pode se resolver com mais espaço para a bancada de deputados na Esplanada. Existe uma expectativa de que o grupo possa indicar um dos ministros que estará contemplado na reforma ministerial esperada para o primeiro semestre.
No Republicanos, Hugo Motta dá lugar a Gilberto Abramo (Republicanos-MG). O deputado – que tem posições alinhadas à direita, como o partido – criticou declarações de Lula sobre Israel e anunciou voto contrário à regulamentação das redes sociais, parada na Câmara há 2 anos.
No PSB, sai o deputado Gervásio Maia (PSB-PB), avesso a declarações públicas e pouco combativo, e entra Pedro Campos (PE), que apesar de ser suplente, é um dos principais nomes da tropa de choque governista na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara.
Além de eleição da presidência, Câmara também deve ter troca de líderes; entenda como isso pode impactar governo

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