Mãe de médica enterrada em Fernandópolis (SP) disse que a agência comentou sobre a análise da documentação enviada pelas companhias aéreas relacionada à manutenção e ao funcionamento das aeronaves. Questionada pelo g1, Anac preferiu não responder. Maria de Fátima Albuquerque, mãe da médica Arianne Albuquerque Risso, que morreu na queda de avião em Vinhedo (SP)
Reprodução
Famílias das vítimas que estavam no avião da Voepass que caiu em Vinhedo (SP), em agosto do ano passado, se reuniram com a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) para cobrar explicações sobre a fiscalização e questionar o andamento das investigações.
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Uma das familiares presentes na reunião foi a mãe da médica Arianne Albuquerque Estevan Risso, de 34 anos, que é uma das 62 vítimas e foi enterrada em Fernandópolis (SP). No dia da tragédia, ela seguia do sul do país para São Paulo, onde participaria de um congresso.
Arianne era filha única da empresária Fátima Albuquerque, de 68 anos. Ao g1, a mãe contou que a reunião virtual, realizada na Comissão de Infraestrutura do Senado, na terça-feira (18), foi proposta pelos familiares, que questionaram como são feitos o treinamento dos pilotos, a validação da inspeção e a fiscalização das operações.
“É para salvar vidas. A gente elaborou uma série de perguntas e também perguntamos por que essa fiscalização assistida não foi feita, antes de uma tragédia como a que aconteceu com nossos filhos. Por que negligenciaram tanto tempo, se havia tantos vídeos e tantas denúncias?”, questiona Fátima.
Imagem do Globocop mostra local da queda de avião em Vinhedo (SP)
Reprodução/TV Globo
No entanto, ela disse que a reunião se resumiu a comentários sobre a análise da documentação, enviada pelas companhias aéreas, relacionada à manutenção e ao funcionamento das aeronaves.
Segundo Fátima, a Anac admitiu que não dispõe de técnicos suficientes para uma fiscalização mais efetiva e assistida presencialmente, e que, muitas vezes, confia na documentação enviada pelas empresas sobre a manutenção e operação dos voos.
Dessa forma, a mãe de Arianne comentou que o posicionamento pode ter influenciado irregularidades recorrentes e negligência da companhia.
“Precisamos que a Anac aumente seu efetivo de técnicos, a fim de poder, de fato, fazer uma fiscalização assistida nas manutenções obrigatórias e periódicas, visto que o envio de documentação por parte das empresas não prova efetivamente que a manutenção foi feita corretamente”, pontua Fátima.
Arianne Albuquerque Estevan Risso e a mãe, Fátima Albuquerque
Fátima Albuquerque/Arquivo pessoal
Fátima também informou que a Anac confirmou a existência de denúncias envolvendo a Voepass, mesmo antes do acidente. Inclusive, aplicou R$ 4,4 milhões em multas à companhia, desde 2014, com relação a sanções administrativas sobre problemas encontrados na empresa.
Ao todo, foram aplicadas 255 multas, e não cabem mais recursos. A última foi enviada quatro dias antes de a empresa ser suspensa pela Anac por falta de segurança nas operações (veja mais abaixo). A suspensão foi determinada no dia 11 de março.
Nesse caso, as famílias das vítimas pediram, na reunião, que a Anac seja criteriosa, tenha autonomia e “não aceite a pressão” para colocar as aeronaves no ar, sem condições técnicas e garantia de segurança para os passageiros.
“Eles vão mudar o protocolo? Essa tragédia foi anunciada. Nosso objetivo com a Anac é mostrar o quão importante ela é, responsável pela nossa segurança. Sendo assim, precisa tornar mais rígidas e ágeis as regulações da aviação civil, já que as atuais são frágeis e as próprias empresas não as cumprem e respeitam”, salienta Fátima.
Arianne Albuquerque Estevan Risso, que trabalhou em Fernandópolis (SP), é uma das vítimas do acidente aéreo em Vinhedo (SP)
Fátima Albuquerque/Arquivo pessoal
A mulher ainda comentou que, em relação ao acidente, as respostas aos questionamentos feitos na reunião não abordaram a investigação, uma vez que é feita pelo Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) e pela Polícia Federal.
Uma nova reunião presencial com os familiares foi marcada pela Anac para dar prosseguimento às respostas.
“É desesperador, é algo que não dá para descrever. Vamos continuar lutando, trabalhando, outros orando. Para nós, familiares, nós temos clareza de que eles foram assassinados, não foi uma fatalidade. A gente acredita muito na Justiça. Uma dia de cada vez”, completa Fátima.
O que dizem a Anac e a Voepass?
O g1 questionou a Anac sobre o motivo de não ter sido feita a suspensão dos voos da Voepass antes do acidente aéreo, mesmo diante de muitas denúncias, multas e irregularidades constatadas pela própria agência, mas a Anac preferiu não responder.
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Em nota, a Voepass, sediada em Ribeirão Preto (SP), disse que não há nenhuma ligação entre o acidente ocorrido em agosto de 2024 e a medida cautelar da Anac que suspendeu provisoriamente os voos.
A companhia informou que está prestando todos os esclarecimentos para demonstrar a capacidade operacional, garantindo os níveis de segurança exigidos pela agência reguladora, com o objetivo de retomar as atividades em breve.
“Nos 30 anos de atuação da empresa, a segurança dos passageiros e da tripulação sempre foi e continuará sendo sua prioridade máxima”, diz a nota.
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Com relação às declarações da Anac, durante a reunião na terça-feira, a companhia reitera que as aeronaves e os pilotos estão com todas as certificações e todos os treinamentos válidos.
Reforçou também que toda reposição de peças, feita a partir de aeronaves com certificação de aeronavegabilidade e com rastreabilidade dos componentes, é acompanhada de perto pela agência e devidamente comunicada pela empresa.
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Arianne Risso foi velada e sepultada em Fernandópolis (SP)
Reprodução/TV TEM
Suspensão da Voepass
Desde o acidente, a Anac realiza uma operação para fiscalizar as instalações da empresa. E, segundo a agência, a Voepass não conseguiu “solucionar irregularidades identificadas”.
Além disso, não foram atendidas exigências como a redução da malha aérea e o aumento do tempo das aeronaves no solo para manutenção. A agência afirmou ainda que irregularidades que já tinham sido consideradas sanadas voltaram a ocorrer.
Anac suspende voos da Voepass por violação de normas de segurança
Reprodução/Jornal Nacional
No período de sete meses entre o acidente no interior de São Paulo e a suspensão, a Anac aplicou nove multas contra a companhia, que totalizaram R$ 139 mil. Nenhuma foi paga.
A última multa, de R$ 4 mil, foi aplicada por ausência de “sistema de manuais para uso e orientação de pessoal de solo e de voo na condução de suas atividades”.
Em nota, a agência disse que houve “uma quebra de confiança em relação aos processos internos da empresa devido a evidências de que os sistemas da Voepass perderam a capacidade de dar respostas à identificação e correção de riscos da operação aérea”.
Segundo a agência, a suspensão é em caráter cautelar (provisório) e vai vigorar até que a companhia “comprove a correção de não conformidades relacionadas ao sistema de gestão previstas em regulamentos”.
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