O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), decidiu manter a exoneração do ex-secretário de Transportes Washington Reis (MDB), assinada pelo deputado estadual Rodrigo Bacellar (União Brasil) na semana passada.
Castro nomeou nesta quinta-feira (10) Priscila Salakem, ex-chefe da assessoria de gabinete, como secretária de Transportes.
A decisão agrada deputados da base na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro), mas contraria os principais quadros do PL no estado, entre eles o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), que tinha pedido a volta de Reis ao cargo.
Provável candidato ao governo estadual em 2026, Bacellar, presidente da Alerj, assumiu por cinco dias como governador em exercício durante viagem de Castro a Portugal. No período, exonerou Reis: disse que o desafeto “acendeu vela para os dois lados“, aproximando-se do prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD), outro cotado para o pleito.
Castro voltou ao Palácio Guanabara na segunda (7) e demorou três dias até comunicar decisão. Durante o silêncio, Bacellar e deputados ameaçaram romper caso o chefe do Executivo tornasse a exoneração sem efeito.
Um representante do governo se reuniu na noite de quarta (9) com deputados e leu uma carta, na qual o governador decidia pela exoneração, mas criticava Bacellar. O mesmo conteúdo foi publicado nas redes nesta quinta (10).
“Ela [a exoneração] já estava em minha previsão e seria realizada após o retorno do meu período de férias. Este fato não justifica o ato intempestivo e desrespeitoso do presidente da Assembleia”, disse Castro, que sairá em férias na próxima semana —Bacellar assume novamente.
Na carta, o governador diz concordar com a saída de Reis “por conta de suas sinalizações, desalinhadas ao nosso grupo político”.
O entorno do governo atribui a exoneração à chamada “tropa de choque” de Bacellar na Alerj, grupo de deputados do PL e da federação União Brasil-PP. O plano já estava definido antes de Castro viajar, mas o governador não deu aval.
O caso da exoneração dividiu a direita fluminense. Em Brasília, o deputado federal Sóstenes Cavalcante (PL-RJ) e o senador Carlos Portinho (PL-RJ), líderes do partido no Congresso, criticaram Bacellar.
“Para começar uma campanha causando desunião e danos colaterais ao cidadão, sem o menor espírito público, melhor parar por aí”, escreveu Portinho em rede social.
O senador Flávio Bolsonaro tentou interceder pelo ex-secretário.
Castro, pressionado por duas alas, preferiu aquietar os integrantes da Assembleia para não inviabilizar o restante do mandato, segundo pessoas próximas a ele.
A decisão do governador evita o naufrágio do acordo para o Senado: o plano é que Castro deixe o cargo até abril e concorra ao lado de Flávio Bolsonaro. Neste período, Bacellar assumirá o governo.
A “tropa de choque” ameaçou lançar um candidato ao Senado para dificultar a situação de Castro na disputa.
Por outro lado, a saída de Washington Reis abre caminho para fragmentar a direita na eleição ao governo. Ele mira apoio de lideranças evangélicas e do interior. Reis é próximo do pastor Silas Malafaia e de Sóstenes Cavalcante.
Aliado da família Bolsonaro nos últimos anos e presidente estadual do MDB, Reis começou em maio a se colocar como postulante. Ao mesmo tempo, aceitou aproximações de Paes, que o vê como potencial candidato a senador.
O ex-secretário, no entanto, está inelegível e tenta no STF (Supremo Tribunal Federal) reverter uma condenação. Ex-prefeito de Duque de Caxias, ele foi condenado em 2016 por crime ambiental ao fazer um loteamento na cidade.
O aceno de Reis a uma candidatura também bagunça conversas de Paes, que tenta atrair lideranças do interior. Uma delas é o prefeito de Campos dos Goytacazes, Wladimir Garotinho (PP), filho de Anthony Garotinho, ex-governador do Rio. Wladimir tem sido cortejado por Paes e Reis.
Reis e Wladimir se encontraram em maio, episódio que irritou o presidente da Alerj. Campos, município mais populoso do interior, é também berço político de Bacellar, que rivaliza com a família Garotinho.