No entanto, Carlos Fávaro, ministro da Agricultura, descartou a possibilidade de o governo adotar medidas artificiais no setor agrícola. Lula diz que pode tomar atitude mais drástica para combater alta dos preços dos alimentos
O presidente Lula disse nesta sexta-feira (7) que pode tomar uma atitude mais drástica se a decisão de zerar as tarifas de importação de nove alimentos não segurar a alta dos preços. Minutos depois, o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, descartou a possibilidade de o governo adotar medidas artificiais no setor agrícola.
A redução das tarifas de importação deve ser discutida na semana que vem pela Câmara de Comércio Exterior, vinculada ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio. Carne, café, açúcar, milho, azeite de oliva, óleo de girassol, sardinha, biscoitos e massas passam a ter tarifa zero. O governo ainda não informou quanto vai deixar de arrecadar.
Os preços de alguns alimentos dispararam, acompanhando uma tendência mundial. Em 12 meses, o café moído no Brasil subiu 60%; o contrafilé, 21%; o frango, 11,6%.
A agência das Nações Unidas para Agricultura tem um índice global para os alimentos. O indicador está em trajetória de alta. O pico foi em março de 2022, no início da guerra da Rússia contra a Ucrânia. Agora, a FAO cita problemas de produção mundial e fala que o clima adverso afeta a safra no Brasil.
Especialistas alertam para o efeito limitado da decisão de zerar as tarifas. Se por um lado o governo quer que o consumidor tenha nos mercados produtos mais baratos, por outro, a redução das tarifas pode afetar produtores, causando efeitos em toda a cadeia produtiva.
“Quando a gente tira essa tarifa de importação de parte dos produtos que estão vindo para o Brasil, esses produtos passam a ser mais competitivos e eles podem acabar gerando um cenário onde a produção doméstica não vale a pena. Onde esse produtor se depara com um cenário onde os custos são altos, os riscos são elevados, as incertezas inclusive são muito elevadas, e ele pode simplesmente reduzir a própria oferta”, explica Juliana Inhasz, economista do Insper.
O presidente da Associação Brasileira de Milho e Sorgo, Paulo Bertolini, disse que o setor precisa de custos mais baixos, incentivo à armazenagem e redução dos impostos sobre os insumos agrícolas:
“Seria muito mais eficaz do nosso ponto de vista uma ação para reduzir os impostos sobre importação de insumos de matérias-primas. A gente importa 85% dos nossos fertilizantes, a gente importa boa parte dos químicos que fazem parte dos defensivos agrícolas. E aí sim haveria uma redução de custo significativo que beneficiaria não só um produto ou outro agrícola, mas a cadeia como um todo”, afirma.
A Associação Brasileira dos Supermercados manifestou apoio à proposta do governo, destacando que a medida pode contribuir para diminuir os preços aos consumidores e aliviar o custo de vida, especialmente das famílias de baixa renda.
Lula diz que pode tomar atitude mais drástica para combater alta dos preços dos alimentos
Jornal Nacional/ Reprodução
Em um evento em Minas Gerais, o presidente Lula disse que vai insistir em medidas para baixar os preços e que, se necessário, o governo pode tomar atitudes mais drásticas:
“Então, eu quero que vocês saibam, o preço do café está muito caro para o consumidor, o preço do ovo está muito caro, o preço do milho está caro, e nós estamos tentando encontrar uma solução. A gente não quer brigar com ninguém. A gente quer encontrar uma solução pacífica, sem nada. Mas se a gente não encontrar, a gente vai ter que tomar atitude mais drástica, porque o que nos interessa é levar a comida barata para a mesa do povo brasileiro”.
O Jornal Nacional questionou o Palácio do Planalto sobre a quais medidas o presidente se referiu, mas não teve retorno.
Em entrevista ao programa Estúdio i, da GloboNews, o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, foi perguntado sobre a fala de Lula e descartou intervenção no preço dos alimentos:
“O presidente Lula em hipótese alguma, em nenhum momento, quis usar esse tipo de artifício, que sabe que os efeitos colaterais não são bons. Como é uma crise de preço de alimentos mundiais, é óbvio que o governo tem que estar preocupado, é óbvio que o governo entende o eco das ruas e por isso tomamos medidas”.
Em nota, a Frente Parlamentar da Agropecuária já havia manifestado preocupação com a proposta de zerar as tarifas de importação, afirmando que o problema está concentrado no próprio desequilíbrio fiscal do governo, responsável por onerar os custos e por alavancar a inflação.
Também em entrevista à GloboNews, a senadora Tereza Cristina, que integra a Frente Parlamentar da Agropecuária e é ex-ministra do setor, criticou as medidas e a declaração de Lula:
“A gente nunca viu intervenção funcionar. Então, o que ele tem que pensar é em fazer um plano safra robusto, fazer com que a agricultura brasileira continue a ofertar um excesso de produção, como nós temos nas mais variadas culturas para abastecer o mercado interno e ainda você ter excedentes para exportar, para melhorar a nossa balança comercial”.
Balança comercial
Em fevereiro, a balança comercial do Brasil teve o primeiro resultado negativo em três anos. As importações superaram as exportações em US$ 324 milhões. O saldo ficou negativo porque o Brasil comprou uma plataforma de petróleo da China e importou mais peças de automóveis. O país também vendeu menos minério de ferro e petróleo.
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